´O PT está vivo, muito vivo´, diz candidata a presidente do partido em Ilhéus

Ariadne Pitanga
Maurício Maron

O Partido dos Trabalhadores em Ilhéus nasceu na varanda da casa dela. No início dos anos 80, a servidora pública Ariadne Pitanga, cedia a sua própria casa para as primeiras reuniões de fundação da sigla. Eram tempos de movimentos pela luta dos trabalhadores na Ceplac. Lá sempre estavam nomes como Geraldo Simões, Eliezer Correia, Everaldo Anunciação, Edvaldo Pitanga e o professor Manoel Sérgio.

Ariadne sempre foi uma militante atuante. Mas nos últimos 13 anos, afirma ter se afastado da organização formal do partido. E nega ter perdido a ternura pela militância. O afastamento teve um nobre motivo. Ariadne assumiu uma importante missão dos companheiros: ser a gestora executiva do INSS na região, acompanhando 63 municípios e 23 agências do instituto de seguridade.

Agora, exonerada, a pedido, da função, resolveu se dedicar novamente ao PT de Ilhéus. Será candidata à presidente da sigla pela tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), contando com o apoio da atual presidente, a professora Carmelita Ângela.

Nesta entrevista concedida ao Jornal Bahia Online. Ariadne produz um debate franco a respeito dos acertos e, principalmente, dos erros do PT. Evita falar em reconstrução. Valoriza a expressão fortalecimento. E diz que sua principal missão, caso eleita, será a reorganização do partido e a união dos militantes e filiados para o PT chegar forte na reeleição de Rui Costa, em 2018. “Esse é o primeiro passo a ser conquistado, a reeleição de Rui. Depois pensamos adiante”, assegura.

Leia, abaixo, a entrevista de Ariadne.

 

Que avaliação a senhora faz do PT no Brasil neste momento.

No contexto nacional não é novidade que o PT tem sofrido diversos ataques da mídia. As denúncias de corrupção envolvendo o partido prejudicaram demais e o sentimento dos petistas é de que as denúncias “privilegiaram” o PT numa clara intenção de fragilizar o partido perante a sociedade. Mas o PT sempre afirmou e reafirmou que se tiver alguém no partido que colaborou com esta montagem que está aí, estes devem por seus atos. Agora é preciso deixar claro que isso não foi uma situação inventada pelo PT. O Caixa Dois foi uma engrenagem que todos sabiam que sempre existiu, mas parece que foi descoberto agora. Pela população, por políticos, pelos juízes e por aí vai.  O pior é que o peso maior sempre cai na gente.

Nesta sua visão de que o PT foi prejudicado, é importante perguntar. Por que a senhora acha isso? Por que isso aconteceu?

É uma coisa que vai além do que a gente imagina, é um jogo do poder mesmo. O projeto político do PT inicialmente pensavam que só duraria quatro anos, que o governo Lula não daria certo. Deu, se reelegeu, depois elegeu e reelegeu Dilma. No entanto, o PT tinha um governo, mas as elites nunca deixaram que o PT tivesse o poder. Quando o PT estava se firmando com a eleição de Dilma, a gente ouvia a burguesia dizer que não iria aguentar tanto tempo com um governo do PT. O que acontece é uma briga pela hegemonia do poder, de projetos, do que o PT representa para a sociedade, para a massa.

A senhora não faz a autocrítica de que o PT errou e errou muito?

Claro que o PT errou. Não dá para negar isso. Inclusive para fortalecer o partido é preciso enxergar esta realidade, fazer uma autocrítica.

Onde errou?

Errou em confiar em parceiros que o partido sabia que não eram confiáveis. O PT deveria ter quebrado paradigmas que sabia que existiam, mas preferiu conviver com eles do que enfrenta-los, para não perder a governabilidade.

E na sua opinião, o que aconteceu especificamente em Ilhéus, após a crise nacional do partido?

Em Ilhéus não foi diferente. Os próprios militantes ficaram mais fragilizados. O PT também se afastou um pouco dos movimentos sociais e sindicais por conta de todo este processo. Mas gostaria de ressaltar uma coisa que quase ninguém sabe. Em Ilhéus, em 2016, apesar do bombardeio que tivemos, conquistamos a maior quantidade de filiação da história do PT em um só ano. Foram filiados jovens, funcionários públicos, motoristas de taxi. E apenas dois por cento destas filiações foram especificamente para oficializar candidaturas a vereador na eleição do ano passado.

O que o PT de Ilhéus precisa neste momento?

Precisa se fortalecer mais e participar mais dos movimentos sociais e sindicais. Precisa se inserir melhor na comunidade e nas instituições em geral que sejam sinônimos de crescimento e de desenvolvimento para a cidade.

Mas vocês, se eleitos, vão enfrentar a pior fase do partido. Acabou-se aquela fase de modismo de ser petista, de se filiar à sigla.

Vamos ser honestos? Ilhéus não tem ao longo dos anos mostrado uma simpatia ao que o PT apresenta como modelo de sociedade. A votação expressiva de quatro anos atrás surfou também na onda da popularidade do partido àquela época. A gente, no entanto, não tá fechado. Faltam novas lideranças? Vamos trabalhar para conquista-las. Agora, neste momento, nesta nova eleição interna, o PT está com o sentimento de ser fortalecido. E dos 417 municípios da Bahia, 350 vão fazer o PED (eleições internas), obedecendo as cotas de mulheres, de negros e de jovens. Então não é pouca coisa não, meu amigo. Embora a votação tenha sido inexpressiva nas últimas eleições em Ilhéus, garanto uma coisa a você: o partido está vivo, muito vivo aqui.

Você então fala em recomeço?

Em continuidade de uma construção, com debates de ideias. A gente vai criar uma agenda positiva de debates junto aos movimentos sociais e sindicais. Queremos um partido pujante, de olho na reeleição de Rui (Costa, governador) e que o Brasil mostre, novamente, a cara do PT na eleição para presidente, em 2018.

Em Ilhéus, o PT é da base do governo do prefeito Mário Alexandre?

Essa é uma questão que não foi discutida no diretório. E o PT só se posiciona a respeito desse tema depois de uma discussão interna e quando for tirada uma posição ouvindo a maioria. O partido existe e tem suas regras. Então quem tem que decidir isso é o corpo diretivo do partido. E até hoje não houve uma aproximação do governo com o diretório. Nenhum filiado do partido levou este debate para o grupo diretório. Sou candidata para fazer, justamente, esta luta pela recuperação do PT em Ilhéus e para unir o partido em torno de um projeto único, singular. Nada de um aqui e outro ali.

Não lembro do PT unido. Há tendências, ideias completamente distintas, diferentes, que não unem os mais diversos pensamentos do partido...

... Existe o debate na eleição, sim, tem várias tendências, várias linhas de pensamento... mas no momento que tem a eleição, que o partido define a direção, é preciso construir isso. A proporcionalidade também garante a participação das outras tendências na direção. Então a partir deste momento, o PT passa a ser um projeto único. Se tiver discussão divergente, ela passa pelo diretório a quem cabe a decisão. Vamos adotar a posição majoritária, mesmo que venha a ser uma posição que eu não concorde com ela. Daí se a maioria decidir, por exemplo, ser aliado de alguém, vamos ser. Mas não pode ser vontade de um, de dois. Maioria é maioria.

E como vocês pretendem essa reconstrução, ou, como vocês preferem definir: esse fortalecimento.

Primeiro vamos fazer uma discussão interna. Depois partir para a sociedade. É essa motivação que a gente vai procurar. Vamos buscar os filiados que se afastaram do partido, vamos buscar novos militantes, mas sempre dizendo que o projeto do PT é o melhor para os jovens, os estudantes, as classes trabalhadoras.

Que avaliação a senhora faz da gestão do governador Rui Costa?

Positiva. Ele tem passado limpo e vejo e ouço isso de pessoas que não são sequer filiadas. São apenas admiradores. Todos acham Rui um cara trabalhador, que organizou as finanças do estado no momento em que a grande maioria dos estados brasileiros está vivenciando caos. Rui tem mostrado uma capacidade de organização, de vanguarda, de trabalho, positivo para o PT e para a sociedade baiana. Aqui na região, por exemplo, tem hospital, tem estradas, ponte, abastecimento de água... considero o governo de Rui um governo de trabalho.

O que muda essencialmente no PT a partir desta crise?

No início quando a gente começava na televisão dizendo ´sou ex-preso político´ e tal, era uma rejeição total. Depois crescemos. Agora voltamos à um nível de rejeição. As pessoas que entraram no partido com o sentimento de purismo, obviamente se decepcionaram. Chegou a hora de recuperar isso. Quem quiser vir para o partido tem que aceitar o PT como ele é e ajudar a melhorá-lo. Quem ficou e quem vier são pessoas que realmente acreditam no partido. E se a gente puder trazer as pessoas que se afastaram, sem que tenham se afastado por conta de seus interesses não terem sido atendidos, estes serão novamente bem-vindos. Vamos buscá-los em casa.