O recado das urnas

As urnas mandam um forte recado
Imagem meramente ilustrativa

Mário Alexandre, prefeito eleito de Ilhéus, sabe que tem muitos desafios pela frente. O primeiro deles é o de conquistar a grande maioria do eleitorado local. O resultado das urnas mostra uma cidade desestimulada a votar. Basta avaliar a resposta das ruas. Mais de 70 por cento da população não votaram em Mário Alexandre. 40% votaram nulo, branco ou não compareceram. Numa cidade de 135 mil eleitores, Mário foi eleito por apenas 36 mil. É legítimo, óbvio. Não se questiona isso. Mas que faz política pensando um passo à frente é preciso fazer uma avaliação bem mais profunda desta realidade. E esta avaliação tem que partir tanto da parte do vencedor quanto da parte do vencido.

Mário precisa, inicialmente, convencer Ilhéus de que não repetirá os erros do passado, quando foi vice de Newton Lima. Talvez por isso tenha insistentemente dizendo às pessoas (e a ele mesmo): "eu não posso errar". A escolha da equipe que vai começar a governar com ele é fundamental para isso. As pesquisas qualitativas avaliadas no período pré-eleitoral mostraram Mário como um candidato visto como “o novo”. Os adversários, obviamente, apostaram as fichas na desconstrução, “colando” Mário a Newton e à mãe, Angela, estrategicamente bem escondida durante o pleito. No final a fórmula mostrou-se de pouco efeito prático.

Esta estratégia da desconstrução terminou vencida pelo desgaste (expressão dos adversários) ou pela crise econômica (expressão usada pelo governo) que vitimizou o atual governo. Jabes Ribeiro dá sinais evidentes de que se aposenta na política por conta do tempo que não lhe proporciona mais a energia do professor dos anos 80 e de um delicado problema de saúde que lhe afastou por várias vezes da atual gestão. Jabes entra para a história política de Ilhéus como um dos personagens bem mais sucedidos nas urnas. Prefeito várias vezes, deputado e secretário de estado. Isso é inquestionável. Até por parte dos seus adversários.

As portas para a nova política estão abertas. O que não impede que os “mais antigos” não possam, um dia, voltar a caminhar por elas. E é justamente por isso que é preciso enxergar o passo à frente. Mário depende dele próprio. Cacá depende dele próprio, também. Aos 38 anos, Cacá mostrou uma determinação invejável nas ruas e uma vocação de lidar com o povo. Perdeu 10 quilos percorrendo ruas e apostando na força do seu convencimento. Ao enviar ontem uma mensagem para o prefeito eleito, deixou clara a sua disposição para continuar na vida pública. “Como disse, durante toda a campanha, governar a cidade que nasci é um sonho de criança. Este sonho não se acaba hoje”, escreveu.

Ilhéus, portanto, também precisa reagir ao resultado das urnas. A cidade que quer mais, precisa participar mais. Acreditar nela própria, na força do voto popular para reencontrar-se com o desenvolvimento.

Apenas mais um alerta ao prefeito eleito. Cuidado ao misturar política e religião no dia-a-dia do futuro governo.

Essa fórmula não deu certo em Itabuna e custou caro ao prefeito Claudevane Leite que quatro anos atrás era tão esperança quanto Marão é hoje e termina o mandato solitário sendo saco de pancada de aliados e de adversários.