Por que entre Estado e Prefeitura há uma diferença de 92 infectados em Ilhéus?

Geraldo Magela
Secom

Em primeira mão. Os números sobre a Covid-19 em Ilhéus não “batem” quando comparados os boletins das Secretarias Municipal e Estadual da Saúde. E isso tem chamado a atenção da população. Enquanto o prefeito Mário Alexandre fala em “achatamento da curva”, o Estado aponta para um aumento em 24 horas de 80 casos, recorde na cidade. Ontem, de acordo com a Prefeitura de Ilhéus, o município tinha um total de 412 pacientes positivados. Já o estado apontava 507, uma diferença absurda de 95 pessoas com a doença. Pessoas que a Secretaria Municipal de Saúde desconhece até aqui.

“Não conheço esses pacientes. Não há uma só informação nos nossos registros sobre eles”, disse há pouco o secretário municipal de Saúde, Geraldo Magela, com exclusividade para o Jornal Bahia Online. “Eu não ligo para o número, quero que o paciente seja atendido. Mas não temos ficha, não temos endereço, nada sobre esta diferença que se aponta entre um número e outro”, reforça Magela. Segundo ele muito “provavelmente nem sejam de Ilhéus”, em que pese este índice estar sendo computado, pelo Estado, para o boletim da cidade.

“Agora imagine você quando eu for auditado, vão falar quem são quem esses fantasmas e eu não tenho um documento sequer sobre eles”, criticou o secretário Magela, acrescentando que prefere apanhar da população do que reconhecer algo feito por terceiros, sem informações nem explicações plausíveis.

Questionado por que isto estaria ocorrendo, o secretário diz estar desconfiado de que a origem do problema esteja no banco de dados do Hospital Regional Costa do Cacau. “Hoje a gente não consegue enxergar o que o Costa do Cacau alimenta (de informação para o sistema) e quando vimos, pacientes que só passaram por lá viram estatísticas nossas”, informou Geraldo Magela. Ele assegura que isso não ocorre com o Hospital de Ilhéus que, além de informar ao sistema estadual e nacional, também informa seus números diariamente ao município.

O secretário disse ao JBO que recentemente conseguiu identificar 24 pacientes no cadastro de Ilhéus, lançados no sistema estadual, que não eram moradores da cidade. “Agora imagine: o hospital está recebendo até pacientes de Mucurí (último município baiano ao sul)”, afirmou. A questão, segundo ele, é que o município tem 24 horas para descobrir, identificar pacientes de outros municípios e retirar do índice local. "Senão automaticamente vira nosso". O problema é: como identificar alguém que não é visto, enxergado como paciente seu?

Isso tudo teria começado, segundo Magela, a partir da mudança do sistema de integração de pacientes com a Covid-19. O estado migrou para o sistema nacional, unificando os dados em todo o País. Aqui na Bahia surgiram a partir desta unificação oito mil positivados da noite para o dia, de acordo com Magela. “O próprio governo do Estado nos solicitou que identificássemos os excessos e mandasse a informação para o núcleo regional da Sesab para que os nomes fossem retirados da lista, mas não mandou nenhuma lista”, disse Magela.

O secretário informou que neste domingo uma equipe da Secretaria Municipal de Saúde participa de um mutirão no órgão do estado no sul da Bahia, a fim de identificar outros casos. “Nós não estamos criando este problema, mas estamos tentando resolver”, disse, acrescentando que técnicos do município estão no núcleo da Sesab para “higienizar de novo” os dados do estado, com uma probabilidade de 80 por cento destes novos números não serem de Ilhéus.

Inadimissível isso – afirma categoricamente. “Paciente morre, sem passar pela Sesau. “Não se consegue realizar nem o procedimento padrão definido pela Organização Mundial da Saúde do “testa e isola”, continua Magela. “Eu posso garantir que Ilhéus está brigando para achar paciente positivado. Identificar e tratar. Não vou esconder que considero que a cidade tem 30 por cento de subnotificação (pessoas que não sabem estar contaminadas e estão sem o devido tratamento), pelo fato de termos muitos assintomáticos.  Digo isso pelo que ocorre na ponta do problema: o quadro de muitas pessoas tem se agravado rápido e estas pessoas precisam com urgência de uma vaga nas UTIs”, disse.

O Jornal Bahia Online enviou para a Assessoria de Imprensa do Hospital Costa do Cacau o questionamento feito pelo secretário. Logo que houver uma resposta estaremos atualizando a matéria.

Atualizado às 11h10min - A Assessoria de Imprensa do Hospital Costa do Cacau informou que por orientação do Estado, os questionamentos deverão ser respondidos pela Secretaria Estadual de Saúde. Nós reencaminhamos os mesmos questionamentos para Sesab.

Atualizado às 12h01min - A Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual da Saúde preferiu não respondeu pontualmente os questionamentos feitos pelo site. Nos enviou um press release de forma genérica sobre o tema que publicamos logo abaixo.

A partir do dia 16 de maio, entrou em operação um sistema desenvolvido pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), que integra bases de dados epidemiológicos e laboratoriais dos governos federal, estadual e municipais. Este é mais um esforço do Governo para apresentar dados confiáveis e precisos no monitoramento dos casos suspeitos e positivos de coronavírus (Covid-19) na Bahia.​

​De acordo com o secretário da Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas “Desde 27 de março, o antigo sistema denominado RedCap, desenvolvido pelo Ministério da Saúde para notificações, foi substituído pelo novo e-SUS, no entanto, os estados não conseguiam acessar as informações nominais notificadas no novo sistema, resultando no acúmulo de casos que ninguém conseguia visualizar”, afirma o secretário. Ainda de acordo com o titular da pasta da Saúde, esse problema do sistema está sendo experimentado por todos os estados do país e apenas a Bahia e mais três outros estados conseguiram desenvolver uma solução tecnológica que permitisse consolidar as bases. ​

​Anteriormente, os boletins epidemiológicos divulgados contabilizavam apenas os dados recebidos pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA), em conjunto com os Cievs municipais, sem que isso, necessariamente, representasse a totalidade das notificações. “A partir de agora será possível baixar e integrar as diferentes bases de dados do Ministério da Saúde e consolidá-las com as bases do estado e dos municípios de forma confiável”, explica Vilas-Boas.​

​É importante destacar que o resultado será uma mudança para cima no patamar de casos notificados, que refletirão não mais apenas os casos confirmados laboratorialmente, mas também todos os casos confirmados por critério clínicos, testes rápidos e testes realizados em unidades privadas. ​

​A diretora da Vigilância Epidemiológica da Bahia, Márcia São Pedro, explica que é competência e responsabilidade dos municípios acessar o sistema e-SUS para fechar as investigações epidemiológicas, ou seja, validar, corrigir ou descartar os casos lançados”, pontua.​

​Critérios para os exames da Covid-19​

​No Sistema Único de Saúde (SUS), a coleta de amostras para a realização do exame RT-PCR, que é o padrão ouro para a identificação do genoma viral, deve ocorrer em cinco situações: pacientes internados com suspeita de coronavírus, independente da gravidade; pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG); profissionais de saúde com síndrome gripal suspeitos de Covid-19 ou que tenham tido contato com casos confirmados de coronavírus, mesmo que assintomáticos; pacientes que foram a óbito com suspeita de Covid-19, cuja coleta não pôde ter sido realizada em vida; e em indivíduos institucionalizados durante investigação de surtos da doença.​

​Já o teste rápido, que detecta os anticorpos, deve ser utilizado em pacientes com quadro clínico-epidemiológico compatível com a Covid-19; profissionais de segurança pública e de saúde em atividade, independente de sintomas; contato domiciliar de profissional de saúde ou de segurança pública em atividade, independente dos sintomas; pessoas com 60 anos ou mais, sintomáticos ou não, residentes em instituições de longa permanência de idosos ou portadores de comorbidades de risco para complicação da Covid-19.