A Faxineira, as Estrelas e a necessidade de contemplar

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

Para não sucumbir e necessitando de ar puro para respirar, a Faxineira sobrevoa para outros céus onde a imaginação fica inalterada, latente , os sons são ouvidos, as palavras sentidas, bem interpretadas e vividas para não darem lugar a arrependimentos e o corpo transcende a vontades mesquinhas, traiçoeiras e desumanas para não somatizar o que não vale a pena. Inúmeras vezes - numa espécie de alimento-dança para alçar vôo, ela precisa ser contemplativa.

Então ela voa, voa muito alto, voa até onde a imaginação e os seus desejos permitam que a alma ancore em busca da apaziguadora permissão de sonhar para depois, de alimentada animicamente, pousar no silencioso espaço que lhe abriga e entender certos momentos que lhe aparecem...

Impedida de viver pelos cansaços que a rotina lhe impõe, por certas dores que lhe habitam o corpo e o coração Ela extrai de sua essência todos os movimentos aptos à meditação, ao querer entender, ao falar como alerta, gritar, chorar, calar quando necessário para não explodir e contemplar, sempre contemplar firmando seus passos e seus olhares onde lhe dão liberdade para ser.

Cansada dos dissabores que se esbarram diante de sua vida, ela busca sons diferentes e tão conhecidos, mãos que não se fecham, claridade anímica e a alucinante vontade de dançar os passos que lhe foram travados pelas decepções e indiferenças porque, Faxineira de ilusões, pelo labor que a diferencia armazenando sonhos bons, tem a capacidade de ver o que está escondido e ouvir o que está em silêncio...

Por isso, em momentos ela voa, voa muito alto, voa até onde a imaginação e os seus desejos permitam que a alma ancore e sobrevoa Centaurus, reverencia Vênus e colhe as estrelas que são possíveis seres transmutados para sobreviver.

Então naquele espaço em que cabem todas as formas de amar e querer bem Ela reencontra os seres especiais que lhes são tão caros e são eternos contemplativos, entram numa espécie de Camelot humanizada e poética, com ela sentam na mesa e expõem as suas emoções, seus quereres nem sempre recompensados, suas idéias quase sempre expurgadas, suas vozes , na maioria das vezes, sem o eco, que é vida...

Para não sucumbir ela precisa usar o artifício do sonhar e voar até onde pode fazer isso.

Ali recobra as energias os sonhos tomam a dimensão dos espaços e as vidas, que se reencontram são refeitas soba forma de sobrevivência.

Por isso a Faxineira de Ilusões precisa de momentos contemplativos e poder responder aos seus próprios questionamentos

Por que as pessoas sonham e precisam das asas imaginárias para que retornem os seus sentidos?

Por quê, meu Deus?

De que são feitos muitos seres que fogem da realidade ,atingem uma outra dimensão que lhes fazem fortes e donos de suas convicções e se alimentam de sonhos para permanecerem reais?

O que as unem sentadas na etérea e iluminada mesa de Camelot, jogam suas dores, esquartejando-as,numa forma de exorcismo para não morrerem?

Ali, naquela mesa especial a Faxineira de Ilusões relata suas quimeras ( que são ouvidas) ouve os lamentos, gargalha ouvindo os sonhos que se tornaram reais e reafirma a necessidade de,sempre,em algum momento, sentarem naquela mesa etérea e iluminada de Camelot para que a vida prossiga.

Voar, voar, voar… Buscar Centaurus, aplaudir a Via Láctea, armazenar as luzes dentro da alma, conversar, sorrir, entender o crescimento de seres tão próximos, saber ouvi-los.. Tudo tão leve e tão possível, mas como é difícil entender tudo que passa e fica dentro de cada um!

Voar, voar, voar...Permanecer até quando necessário ali onde cabem todas as formas de amar e querer bem, onde seres estruturam seus pactos de eternidade, entendendo que a magia ultrapassa o conhecimento que é palpável, para, mais adiante, ser transmissora de vida e reconhecimento da capacidade de cada um ser individuo que pensa, que se formou, que é!

Assim a Faxineira continua o dia em sua rotina natural.

Quando preciso, voa para buscar a reposição de energias que a iluminam esclarecendo-lhe ações humanas, muitas maldades e graves pensamentos. Voa para permanecer aspirando as tristezas, eliminando presenças indesejadas, varrendo varrendo, varrendo até desintegrarem as posições ranzinzas de quem vê em outros a inferioridade, o alvo para denegrir para se auto projetar.

É preciso, em momentos, voar, , transferir o espírito para aquela Camelot humanizada e poética e renascer, sobreviver e apaziguar as mágoas.

Voar, voar, voar...

E, após esse absoluto vôo, a Faxineira de Ilusões, faz seus caminhos de volta armazenados pelas etéreas lembranças que lhes servirão de sopros vitais para não sucumbir e contemplar...

A autora Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta e cronista no sul da Bahia