Quanto mais democrático e horizontal for o PT, mais forte ele será, diz Josué

Professor Josué
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Josué Cândido da Silva é doutor em Filosofia pela PUC-SP e professor titular da UESC. Ela vai disputar a presidência do Partido dos Trabalhadores (PT) de Ilhéus como a sindicalista Ariadne Pitanga, uma das fundadoras da sigla na cidade. Será uma disputa de raízes. Josué é também uma personalidade histórica do PT. Começou a militância na Pastoral da Juventude da Diocese de São Miguel Paulista, periferia de São Paulo. Esteve ao lado de nomes como o Cardeal Dom Evaristo Arns na luta pela redemocratização do Brasil. Em 1988 filiou-se ao Partido dos Trabalhadores.

No início dos anos 90, professor Josué prestou assessoria à deputada federal por São Paulo, Irma Passoni e integrou a direção zonal leste do partido na capital paulistana. Em 99, chegou a Ilhéus. Foi logo iniciando um trabalho junto as Pastorais da Igreja Católica, passando a ser conhecido nos movimentos sociais. Como professor da Uesc, trabalhou prestando assessoria a estes movimentos da região e manteve sua militância no PT local. Atualmente é Secretário de Organização do partido. Josué disputará a eleição interna do PT, pela tendência EPS - Esquerda Popular Socialista, que tem o deputado Walmir Assunção, representante do MST e de outros movimentos sociais, como liderança estadual.

Como senhor avalia o momento do Partido dos Trabalhadores no Brasil?

O PT tem sido vítima de um massacre jurídico-midiático jamais visto na história recente. Isso tudo como uma estratégia da classe dominante para legitimar o golpe que depôs a presidenta Dilma eleita pelo voto popular. Os ricos e parte da classe média perceberam que não poderiam nos vencer eleitoralmente, então fabricaram a ideia do combate à corrupção. Hoje está claro quais eram os reais interesses: acabar com os direitos dos trabalhadores; elevar a taxa de juros, para alegria dos banqueiros e acabar com a previdência. Diziam que iriam fazer o País crescer e acabar com a corrupção e hoje temos o País estagnado e os principais alvos da Lava-jato no poder. Todavia, boa parte da população comprou o discurso da grande mídia e precisamos ir às ruas para esclarecê-la. Mas reconhecer também que muitos companheiros traíram nossos ideais, mesmo que sejam uma ínfima parte entre os mais de um milhão e meio de filiados do PT.

E em Ilhéus?

Ilhéus também sofreu os efeitos da campanha nacional contra o PT, se até Vitória da Conquista, a melhor cidade para se viver na Bahia graças a 20 anos de administração petista, nós perdemos, em Ilhéus também sentimos os impactos. O que demonstra a necessidade de retomarmos nossa militância. Hoje temos muitos petistas de “ar condicionado”, ocupando cargos na burocracia e que abandonaram os movimentos sociais onde o PT nasceu. 

O que te faz candidato e disputar internamente o comando do partido?

Primeiramente, buscamos construir uma chapa de consenso com a CNB, representada em Ilhéus pela professora Carmelita e professor Ednei. Nossa proposta era dividirmos o mandato, um ano para cada, como forma de mostrar para sociedade que o PT é um partido aberto à renovação de seus quadros. Mas esse consenso não foi possível porque ele foi vencido pelo pragmatismo do tipo: “eu tenho mais votos, sou eu que mando”. Embora seja um argumento válido, não cremos que seja o melhor argumento. O PT deve ser um partido que não tenha dono como os partidos tradicionais e as legendas de aluguel. O poder do PT está na sua militância, naqueles que devotam suas vidas na construção de uma sociedade justa e igualitária. Quanto mais democrático e horizontal for o Partido, mais forte ele será. Sou candidato por acreditar nisso. 

O senhor tem o apoio do vereador do partido que, ao que dizem, faz parte da base de sustentação do governo municipal sem que o PT tenha debatido essa possibilidade. O senhor é contra ou a favor da aliança com o prefeito Mário Alexandre?

É importante esclarecer que “o que dizem” é falso. O vereador Makrisi não é da base de sustentação do governo Mário, isso por uma razão muito simples: até o momento não houve um convite do prefeito Mário Alexandre ao PT e tampouco a Executiva do Diretório Municipal de Ilhéus deliberou sobre o assunto. Se o PT definir que Makrisi deve ir para oposição, Makrisi irá. Afinal, é o que sabemos fazer melhor.  Se deliberar o contrário, será com base em nosso programa que pautaremos a discussão. Em nenhum momento, portanto, há discordância interna sobre esse tema. Minha posição pessoal, que não é só minha, o deputado Valmir Assunção, que é a grande referência da Esquerda Popular Socialista (EPS), grupamento interno do PT ao qual pertenço, esteve aqui em Ilhéus e discutimos esse tema longamente. Nossa posição é que devemos manter a unidade da base do governo Rui Costa, não podemos deixar que ACM Neto faça na Bahia o que o DEM, junto com Temer, tem feito no Brasil: levando as taxas de desemprego à estratosfera e milhares de brasileiros à miséria absoluta. Queremos a Bahia no rumo certo. Enquanto estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo e Rio Grande do Sul estão com o pires na mão, a Bahia segue com as contas em dia e os investimentos crescendo.

Quais as principais críticas que o senhor faz ao atual comando da sigla em Ilhéus?

Não tenho muitas críticas, mesmo porque eu sou Secretário de Organização e formamos um grupo bem afinado na executiva do PT. Tenho um profundo respeito pela nossa presidenta Carmelita e creio que o sentimento é recíproco. Porém, acho que podemos fazer mais. Há uma música do Gonzaguinha que diz que “um homem se humilha se castram seu sonho”. Acredito que nunca devemos deixar castrar nossos sonhos. O PT de Ilhéus merece ser do tamanho de sua militância, esse é um desafio que me interessa.

O que será prioridade caso seja eleito presidente do PT de Ilhéus?

Por conta da minha trajetória de quase trinta anos de PT, meu foco principal será a formação. É preciso empoderar nossos militantes e nossas militantes através de cursos, seminários, palestras, etc., trazendo, inclusive, intelectuais e militantes que não são do PT, mas que têm uma perspectiva interessante sobre ecologia, economia,  combate ao racismo ou questões de gênero.  Tem gente no PT que acha que se me convidar para falar em um seminário, vão perder os filiados deles. Isso é uma bobagem, é imaginar que as pessoas não são capazes de pensar por si mesmas. Eu prefiro acreditar na racionalidade das pessoas e se alguém for capaz de me mostrar que eu estou errado, estou aberto a mudar de opinião. Pois um bom argumento não é bom porque é meu, mas é bom porque é melhor.

Que avaliação o senhor faz do governo Rui Costa?

Como qualquer cidadão, achamos que sempre vemos as soluções melhor que nossos governantes, da mesma maneira que o torcedor vê melhor as falhas do time que o técnico. Então é natural que tenhamos expectativas sempre maiores do que quem enfrenta a realidade do posto possa realizar. Mas creio que Rui Costa poderia fazer mais pela educação e pela segurança pública, sem precisar empenhar grandes quantidades de recursos. Na educação é preciso abolir a prática neoliberal da aprovação automática como forma de redução de custos. No campo da segurança, nós já tivemos várias gestões petistas em governos de estados importantes, mas nunca implantamos um modo petista de segurança pública. Sonho com o dia em que o policial negro não aborde o estudante negro, porque é negro; que não entre em uma comunidade pobre atirando, enfim, que um policial negro do Vilela não mate um jovem negro “suspeito” do Vilela. Essa mudança ainda não fomos capazes de realizar.

Que análise o senhor faz dos investimentos que o governo do estado tem planejado até o final desta gestão para Ilhéus?

Existem grandes investimentos de médio prazo como a ponte do Pontal, o Hospital Regional da Costa do Cacau, a coleta do esgoto da Bacia do Pontal e a duplicação da BR 415.  São obras fundamentais que vão mudar a cara da cidade e podemos dizer, tranquilamente, que nenhuma gestão anterior realizou tanto por Ilhéus. Além disso, Rui Costa tem feito um grande esforço para que a ferrovia e o Porto Sul não naufraguem buscando novos parceiros no exterior, enquanto o golpista Michel Temer abandonou completamente o projeto.

Para reler a entrevista da sindicalista Ariadne Pitanga, candidata pela tendência CNB, e primeira entrevistada nossa, que disputará a eleição interna com professor Josué, basta clicar aqui.