Apertem os cintos, a co-piloto pode mudar de rumo

Mário e a declaração polêmica antes da posse
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Mário Alexandre, prefeito eleito de Ilhéus, ainda nem assumiu o volante.

Mas já na primeira curva em que teve em suas mãos o “carro emprestado”, rodou na pista.

Ao declarar publicamente que não faz parte da cota do governador Rui Costa e afirmar que não pode pedir voto para um governador que não tem ação eficaz na cidade, Marão antecipa por dois anos um debate que, neste momento, não interessa ao povo de Ilhéus.

Rui é o governador até 2018. Marão, prefeito a partir de janeiro do ano que vem. Neste hiato, a cidade aguarda por obras estruturantes importantes, a exemplo da duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna, a nova ponte, a entrega de um hospital e o saneamento da bacia do Pontal.

Se algumas delas estão devagar, pelo menos estão em andamento e dependem da esferográfica do governador para chegarem ao fim.

Ademais, Mário foi eleito pelo PSD, partido que tem interesse no cargo – e no consequente apoio – de Rui daqui a dois anos. Ao criticar o governo, Mário pode estar operando contra os interesses do seu próprio líder, o senador Oto Alencar.

No entanto, a postura do futuro prefeito de Ilhéus revela, nas entrelinhas, o modo de fazer política da sua líder e mãe, a deputada Ângela Sousa. No seu quarto mandato, a deputada circula livremente pelo poder, independentemente de quem esteja nele.

É pragmática. Jamais deixará de ser.

Ao dizer que “o povo não aguenta mais [Rui Costa] assinar papel e não executar”, Mário Alexandre está, na essência, mandando um recado da sua genitora ao governo da Bahia.

O de que não há nenhum problema de romper lá adiante (mas só lá adiante, ok?) com o governador Rui Costa e vir a declarar apoio ao provável candidato ACM Neto, em troca de cargos e indicações em um futuro governo do DEM.

O que não falta na vida pública é quem pense mais em si próprio do que na coletividade.

Portanto, a essência do sinal de alerta acionado pelo futuro prefeito de Ilhéus pode não estar na condução perigosa e inexperiente do piloto. Mas nos interesses da co-piloto que, se sumiu dos holofotes durante a campanha, não perdeu tempo em fazer a primeira foto ao lado do filho logo que os resultados das urnas o mostraram como o vitorioso do pleito.

Apertem os cintos. O piloto precisa ter cuidado. A co-piloto não tem rumo definido e pode mudar o percurso a depender do seu próprio - e único - interesse.