Aposentar? Jamais!

Jabes entrevistado
Arquivo/JBO/Maurício Maron

Após quatro mandatos como prefeito de Ilhéus, Jabes Ribeiro confessa: o atual é o mandato mais difícil, o que mais trabalhou e o que mais o desgastou fisicamente. Ontem, intitulado no calendário nacional como o “Dia do Prefeito”, Jabes recebeu, à noite, o Jornal Bahia Online em seu gabinete para falar sobre o resultado desfavorável das eleições. E fez revelações bombásticas. Uma delas que não fazia mais parte dos seus planos ser prefeito de Ilhéus pela quarta vez e que aceitou o desafio em 2012 por que naquele momento foi instado a esse compromisso.

Foram mais de duas horas de conversa, resumidas na entrevista que segue abaixo. Jabes garante: não está aposentado da política e nem descarta voltar, um dia, a disputar o voto popular. “Jamais”, foi a sua resposta quando perguntado se estaria abandonando a vida pública. Para Jabes, a derrota do seu candidato nas urnas, no último dia 2, revela “um desejo de mudança que tomou conta de todo o Brasil”.

Reconhece que fez muito, mas não fez o ideal neste atual mandato. E disse que durante o governo do prefeito eleito Mário Alexandre, seu grupo vai desempenhar o papel que lhe foi atribuído pela população de Ilhéus. “Tenho que entender e respeitar a vontade de uma parcela da população que me colocou e colocou meu partido na oposição. É oposição política, naturalmente. Nem todo mundo pode ser governo”, afirmou.

E, por fim, mandou um recado para concursados aprovados que ainda não foram convocados pela Prefeitura. “Esqueçam, esqueçam. Eu não posso chamar por que não posso pagar”. Leia, abaixo, o resumo do que foi esta conversa com o jornalista Maurício Maron, editor do JBO. Imperdível.

 

Qual o recado mandado das urnas para o senhor?

O que aconteceu em Ilhéus é de alguma forma resultado do que aconteceu no Brasil. Nós vivemos em um País que desde 2015 está vivendo uma crise política grave, uma crise moral e que resultou efetivamente em um descrédito da classe política. E, ao lado disso, uma imensa dificuldade na economia do País. Portanto, creio que poderia citar duas grandes razões para explicar o que ocorreu em Ilhéus que, de resto, aconteceu em grande parte do País: um imenso desejo de mudança e o empobrecimento das Prefeituras, sendo que elas são o primeiro contato com a população. Então os prefeitos pagaram esse preço altíssimo. 

Mas isso foi regra?

Essa mudança se caracterizou independentemente dos governos ser bem ou mal avaliados. Aqui na Bahia você chega em Irecê, o candidato Luizinho Sobral tinha uma avaliação positiva de 70 por cento e perdeu a reeleição. Aqui na região, observe que na maioria das prefeituras os prefeitos não se reelegeram e nem conseguiram fazer um sucessor.

Todos falando em crise nas Prefeituras...

... De 2015 para cá a perda de receitas foi imensa. Por que na medida em que a economia anda pra trás, além do desemprego, você tem uma perda de receita. Somente este ano, agora em 2016, aqui em Ilhéus, nós já perdemos de arrecadar 15 milhões de reais até agosto. E a previsão até dezembro é chegar a 22 milhões e 600 mil. É muito grave por que os municípios perdem a capacidade de atender a população com o mínimo necessário.  Isso ocasiona um grande desgaste. Então se você soma essa vontade de mudança com essa pouca capacidade dos governos municipais atender a população é um prato feito para os resultados que ocorreram, de um modo geral. E aqui em Ilhéus, também.

“Esqueçam. Eu não posso chamar mais aprovados no concurso por que não posso pagar. Muita gente foi chamada dentro da necessidade objetiva. Não vou ampliar.”

Que Prefeitura o senhor entrega ao seu sucessor?

Uma Prefeitura bem melhor do que a que eles nos entregaram. Me refiro ao último governo, que tinha o Newton (Lima, prefeto) e o Mário (Alexandre, vice). Nós vamos entregar uma prefeitura melhor mas com sérios problemas ainda. Tenho dito: é como se o doente eu consegui tirar da UTI, do hospital, que foi pra casa, mas que, qualquer vacilo, ele volta para a UTI.

Que diagnóstico preocupante esse.

Recebi uma Prefeitura com a despesa de pessoal de mais de 70 por cento e estamos entregando com menos de 60 por cento. Estou entregando uma Prefeitura em que fiz uma Reforma Tributária que foi fundamental para pagar pelo menos os salários e manter as obrigações fiscais. E fazer o mínimo, que é limpeza urbana, coleta de lixo, iluminação pública. Então estou entregando uma prefeitura que, por mais que todos eles criticassem, como criticaram a reforma tributária, mas que ninguém tem coragem de mexer. Repito: ninguém tem coragem de mexer.

“O governo não vai parar. Mas não vou começar nada novo. O esforço agora é para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.”

Sobre este assunto, o senhor chegou a realizar uma entrevista coletiva durante a campanha para anunciar que pretendia enviar à Câmara de Vereadores um Projeto de lei para reduzir tributos e dar intervalos maiores para um novo aumento. Mesmo diante da derrota vai manter sua decisão?

Estou avaliando. Com Cacá (Colchões, candidato do governo) eu tinha conversado com ele. Se ele vencesse a eleição eu faria. Eu percebi que agora em 2016, o universo de pessoas que pagaram IPTU foi menor que em 2015. A ideia não é você diminuir, é você empurrar um pouco.. Pegar o aumento do IPTU que haverá em 2017 para 2018, 2019 para você fazer com que as pessoas pudessem pagar, tivessem melhores condições de pagar. Até porque os economistas dizem que em 2017 o País vai crescer. Estamos avaliando sob o ponto de vista jurídico.

A diferença entre o vencedor e seu candidato foi significativa. Mais de 20 mil votos...

... Apesar das dificuldades, conseguimos ficar à frente de candidaturas fortes como a do deputado Bebeto Galvão, do vereador Cosme Araújo e outras. Cacá fez uma campanha fantástica. Diante desta crise toda, indiscutivelmente, Cacá foi o mais preparado para enfrentar a crise e os próximos anos. Agora, nós temos que respeitar a vontade popular. Nós fomos atingidos por estes ventos da mudança.

“Qualquer análise que possa ser feita entre o que recebi e o que estou entregando, a percepção clara é de que a cidade melhorou.”

Durante o mandato o senhor divulgou recuperação de postos de saúde, contratação de pessoal, humanização de serviços. No entanto, a saúde foi alvo das maiores críticas durante a campanha. Não só por parte do vencedor. Dos outros candidatos também e da população nas ruas, idem. O que houve com a saúde de Ilhéus?

A dificuldade em contratação de profissionais e a crise acabaram contaminando um setor vital. Vamos analisar o seguinte: a saúde é o serviço pior avaliado no Brasil inteiro. Não é um “privilégio” de Ilhéus. Quando recebi a prefeitura do governo anterior, a saúde era pessimamente avaliada. O problema da saúde é grave. Ou se faz uma rediscussão em relação ao seu financiamento ou vamos ter sérios problemas. E nós avançamos: recuperamos postos, colocamos para funcionar o que não estava funcionando. Sei que foi insuficiente para ter uma prestação de serviços adequada e de qualidade que a população possa ser bem atendida. Poderíamos ter feito mais? Tentamos.

Numa cidade de 135 mil eleitores, o vencedor obtém nas urnas 36 mil votos. Somando-se brancos, nulos e abstenção, chega-se a 40 por cento dos votos. O prefeito eleito, de fato, foi escolhido por ¼ dos eleitores. Mais ou menos o mesmo quadro de quando o senhor foi eleito quatro anos atrás. É complicado governar assim?

Não é simples, nem é fácil. É preciso trabalhar muito e mais do que isso aproveitar as circunstâncias, o contexto. Ele (Mário Alexandre) já sairá de um patamar bem melhor do que a que eu saí. Ele tem que avançar muito mais do que eu pude avançar.

“Esperávamos muito mais, evidente. Dentro deste vento de mudança, da dificuldade da Prefeitura, Cacá foi muito bem.”

Quais os seus próximos passos na vida pública?

Eu já afirmei que voltarei a assumir a direção do PP na Bahia como secretário-geral e organizar o partido para as eleições de 2018. Vou manter uma relação bem próxima com Ilhéus que é onde tenho minha vida pública. Essa relação é eterna. Eu quero usar a minha experiência e dar a minha contribuição ao partido.

Vai disputar algum cargo eletivo em 2018?

Não sei. Sinceramente não está dentro dos meus planos neste momento.

Se aposenta da política?

Jamais.

“O leal e o honesto são quando você perde uma eleição, alguém assume e você faz o papel democrático. Como partido político vamos cumprir este papel.”

Que papel o seu grupo terá nos próximos quatro anos em Ilhéus?

Tenho que entender e respeitar a vontade de uma parcela da população que me colocou e colocou meu partido na oposição. É oposição política, naturalmente. Nem todo mundo pode ser governo. O PP vai ser leal à vontade das urnas, que é a vontade de uma parcela expressiva da população. Nossa tarefa é essa. Não é outra. O leal e o honesto são quando você perde uma eleição, alguém assume e você faz o papel democrático. Como partido político vamos cumprir este papel.

As urnas te decepcionaram?

Esperávamos muito mais, evidente. Dentro deste vento de mudança, da dificuldade da Prefeitura, Cacá foi muito bem. Tivemos uma boa performance, enfrentamos candidatos fortes, dez candidaturas. Na campanha, de vez em quando recebia uma queixa. Só tem carro de som do outro lado. Aí alguém me disse: vem cá, rapaz. É um contra nove. Você tem 20 carros de som. Soma o outro lado, dá 70, 80. Essa é uma questão concreta, matemática.

O que diria neste momento aos vencedores?

Desejar que eles possam cumprir com aquilo que acordaram com parcela da população. Dizer que de minha parte, como prefeito da cidade que serei até o dia 31 de dezembro, não haverá dupla prefeitura. Mas haverá uma transição tranquila. No que ele precisar pode contar comigo, só fazer contato. Eu quero o bem da cidade. E estarei fazendo o meu dever. Não haverá nenhuma dificuldade.

“Nós fomos atingidos por estes ventos da mudança.”

Cinco anos atrás o senhor, numa conversa informal, me confessou. Não tinha mais vontade de ser prefeito. Mas quatro anos atrás o senhor veio, disputou e venceu. Venceu também o desafio de entender que aquele não era mais seu objetivo como político?

Não estava nos meus planos. Confesso. É verdade. Naquele momento fui instado a esse compromisso de, mesmo fora daquilo que era o meu projeto, voltar a ser prefeito. E sinceramente contribui com minha experiência. Sei que as pessoas querem resultados imediatos. Mas contribui. Qualquer análise que possa ser feita entre o que recebi e o que estou entregando, a percepção clara é de que a cidade melhorou.

Foi seu mandato mais difícil? É isso que o senhor quer dizer nas entrelinhas?

Sem dúvida, sem dúvida. Mas aí não tenha dúvida. Nunca trabalhei tanto. E digo a você: a tarefa de reorganizar Ilhéus não é de quatro anos, é de muito mais tempo. A luta que fiz para que o povo entendesse essa mensagem e elegesse Cacá é por que sinto que Cacá, por conhecer, estar dentro desta realidade, estava mais preparado para conviver com ela, sem perda de tempo. Mas democracia é isso.

O senhor neste momento faz uma declaração muito interessante. A de que a sua experiência terminou sendo vencida pela dificuldade de governar pela quarta vez...

... Foi uma experiência muito dura, inclusive fisicamente. Recebi uma cidade quebrada, numa conjuntura econômica difícil, numa situação de desarticulação completa. E piorou em 2015 e este ano, 2016, quando eu imaginava que o Brasil avançaria e veio o retrocesso.

“Tenho dito sobre a Prefeitura: é como se o doente eu consegui tirar da UTI, do hospital, que foi pra casa, mas que, qualquer vacilo, ele volta para a UTI.”

O governador Rui Costa não ajudou?

O governo da Bahia também está em dificuldades. Mas termino o meu mandato vendo acontecendo obras que sempre sonhei. O hospital, a ponte e o saneamento básico da bacia do Pontal. Esperava que tivesse avançado com o Porto Sul e Ferrovia de Integração Oeste-Leste, a Fiol. Infelizmente não avançaram. Mas não dá para chegar aqui e dizer que o governador é culpado. Não é. Isso é bobagem. Por que a realidade dele também é complicada. É preciso ter esta compreensão da política.

O senhor agora anuncia enxugamento e economia para se adequar à Lei de Responsabilidade Fiscal, faltando três meses para o final do seu mandato...

... Independente de ganhar ou não eleição, eu teria que tomar estas decisões. Para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal eu não tenho saída. Mesmo que tivesse vencido as eleições eu teria que tomar as medidas de enxugamento da máquina. Estagiários, extinguir contratos, horas extras, devolver maquinários alugados, contratos de assessorias importantes, viagens. São medidas necessárias para minimizar a perda de receitas deste ano.

E os concursados. O senhor vai chamar mais alguém?

Esqueçam. Esqueçam. Eu não posso chamar por que não posso pagar. E tenho que cumprir o que manda a lei. Muita gente foi chamada dentro da necessidade objetiva. Não vou ampliar. Tem setores pressionando. Mas esta pressão pode acreditar não adianta nada. O concurso tem validade de dois anos. O prefeito eleito vai se deparar com necessidade de chamar pessoas. Ele chama. Mas agora não. Ou alguém quer trabalhar para não receber?

Como serão estes últimos três meses do seu quarto mandato?

Nós teremos três meses em que a iluminação vai continuar, a limpeza vai continuar, a operação tapa-buracos vai continuar. Mas não teremos obras novas e não tem mais nada de novo. Vou inaugurar as quadras poliesportivas, pelo menos quatro ou cinco delas. A escola do Salobrinho, alguns postos de saúde... O governo não vai parar. Mas não vou começar nada novo. O esforço agora é para cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal.