Yrerê é um belo exemplo de como fazer Turismo Rural na região cacaueira

Dadá Galdino e Gerson Marques, os anfitriões da Yrerê
JBO/Maurício Maron

Quando o casal Gerson Marques e Dadá Galdino comprou a Fazenda Yrerê, o sentimento era de estar investindo em um “elefante branco”. O ano era 1998. A região sul da Bahia vivia o auge da vassoura-de-bruxa, uma doença que se espalhou rapidamente – e sem controle – nos cacaueiros, destruiu milhares de hectares de cacau e transformou fazendas produtivas em pastos abandonados e improdutivos. “Lembro que no primeiro ano colhemos 11 arrobas”, revela Gerson. A produção não deu sequer para pagar as despesas fixas da propriedade e o casal trabalhou assim, no vermelho, durante alguns anos.

“Para falar a verdade, nunca tivemos bons tempos. Desde quando compramos a fazenda era só vassoura-de-bruxa”, assume. “Temos recuperado o cacau aos poucos. Hoje colhemos 500 arrobas ano, trabalhando em parceria com meeiros, trabalhadores com quem dividimos toda a produção da fazenda”, revela Marques. O que, de fato, mudou nestes 17 anos, é que o cacau deixou de ser o protagonista da Yrerê. Hoje o fruto faz parte de uma lista de atrativos que os proprietários da fazenda apresentam a quem queira vivenciar no local o cotidiano de uma fazenda de cacau.

Criatividade e bons negóciosO resultado não poderia ser melhor. Hoje integrada ao Projeto Derivados de Cacau do Sebrae, a Fazenda Yrerê é passagem obrigatória para os turistas que escolhem Ilhéus como destino. Na sede da fazenda, os visitantes são recebidos pelo casal e por trabalhadores rurais. Em cerca de três horas conhecem a história e o funcionamento da propriedade, degustam na varanda da casa principal os sabores regionais e ouvem as histórias e estórias de “seu” Zé, um trabalhador da fazenda que foi qualificado para funcionar como uma espécie de guia nas plantações de cacau. Não bastassem todas estas atrações e curiosidades, ainda há tempo de percorrer, conhecer – e comprar – no maior orquidário da região.

“A nossa proposta é oferecer aos visitantes uma experiência única, provocando e estimulando seus sentidos, através da visão, paladar, olfato e audição em uma viagem diferente, uma experiência que vale para a vida inteira”, resume Dadá Marques. E isso tudo acontece ao som dos sabias e canários da terra que completam o cenário bucólico cravado na Mata Atlântica preservada pelo Sistema Cabruca, um sistema conservacionista do plantio de cacau, feito sobre a sombra das árvores nativas.

Mudança de comportamentoHoje as visitas à fazenda já representam 70 por cento do faturamento do casal. Os outros 30 por cento devem-se à somatória da venda de cacau e flores. Funcionou a alquimia da artista plástica e do produtor de turismo e, finalmente, a fazenda dá lucro. Nos dias em que atracam Transatlânticos no Porto de Malhado, em Ilhéus, é comum encontrar, pelo menos, dois ônibus lotados de turistas visitando a fazenda. São pelo menos 200 visitas por semana, 290 quando há navio atracado. Cada visitante desembolsa 30 reais para vivenciar este momento especial às margens da Rodovia Jorge Amado, que liga Ilhéus a Itabuna. E todos ganham. “Comissiono os guias, reaplico na fazenda e ainda tiro uma margem de remuneração”, comemora Gerson.

O casal é parceiro do Sebrae desde quando adquiriu a propriedade. Neste período, participou de feiras, consultorias e eventos como convidado da instituição. Dentre os mais importantes, cita Feira de Flores e chocolate, viagens para Congresso da Abav, Seminário Floresta de Choclate, Planos de Negócio e Feira de Turismo Rural, na Paraíba. Também já teve a oportunidade de sediar eventos promovidos pela instituição. “O Sebrae realizou aqui na fazenda um evento de Turismo de Experiência, em julho do ano passado, para 50 convidados”, destaca Gerson.

Outros ganhos valiosos, na opinião do empreendedor, estão uma consultoria na área de planejamento e administração rural, quando ganhou uma consultoria de doze horas, que orientou sobre implantação de programas de administração e controle, composição de custo e elaboração de plano de negocio da fazenda. “Em relação ao turismo, agora estamos começando a tratar do chocolate..Teremos uma consultoria para desenvolvimento do produto, envolvendo aspectos administrativos, financeiros e de marketing para a evolução do produto que vamos lançar nas próximas semanas.

Buscando verticalizar ainda mais as atrações que a fazenda pode oferecer, agora o casal parte para mais uma etapa de novos negócios: vai produzir chocolates de origem com a marca Yrerê. O chocolate será produzido com cacau selecionado colhido na própria fazenda. O chocolate será feito pelo Instituto Cabruca. Uma linha de 54% e outra de 70% de cacau puro. As primeiras unidades, previstas para ser lançadas no final deste mês, serão em barras de 80g e bombons de 12 g. Esta nova fase também conta com o apoio do Projeto Indústria Setorial Ilhéus – Derivados de Cacau.

Gerson lembra que os chocolates de origem do sul da Bahia estão ganhando o reconhecimento mundial e estão se tornando um bom e lucrativo negócio. “Os turistas antes chegavam perguntado por novelas, hoje a procura é por chocolates e vamos tê-los também em nossa linha de produtos”, revela. O próximo passo é estimular o turismo interno, atraindo turistas de outras regiões do Brasil. Hoje, o público que mais frequenta a fazenda é de estrangeiros. Na lista de visitantes, alemães, francês, turcos, argentinos, chilenos, americanos e italianos. O cenário e o sabor do sul da Bahia estão ganhando o mundo através da Fazenda Yrerê.