Só tenho medo de um dia olhar pros meus netos e não poder dizer ´eu tentei´

José Nazal
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José Nazal Pacheco Soub disputou apenas uma eleição. Foi candidato a vererador em 88. Mas a política sempre esteve nas suas veias. O tetravô e o bisavô paternos foram prefeitos de Vitória da Conquista. O avô materno, prefeito de Avaré (SP) e Ilhéus. O tio, prefeito e vice-prefeito de Uruçuca.

Agora, ele está disposto a enfrentar as urnas, pela segunda vez, anunciando uma pré-candidatura a prefeito de Ilhéus. Primeiro, tem o desafio de convencer o seu partido, o PTB, de que tem condições eleitorais de enfrentar as urnas numa eleição majoritária. Segundo, convencer a quem terá a chance de lhe dar um mandato histórico de prefeito de uma das mais importantes cidades da Bahia: o povo.

Nazal é daqueles nomes que, até mesmo os seus opositores (se é que existem) o respeitam pela conduta ilibada. A sinceridade é uma das suas principais marcas. E sua presença na campanha passa a convicção de que ela poderá, finalmente, ter mais qualidade no debate.

Aos 59 anos, casado com Lúcia Soub há 38, Nazal tem três filhos e três netos. Ele concedeu a primeira entrevista desde que anunciou a sua pré-candidatura ao Jornal Bahia Online. Nela, fala de tudo. Das propostas, da sua visão da cidade e avalia o modelo de governo que vem sendo executado na cidade nas últimas décadas. A entrevista  publicada logo abaixo está imperdível. Leia.

Uma pergunta não pode deixar de ser a primeira pergunta desta entrevista. O que te leva a se apresentar como um nome para a sucessão em Ilhéus?

Vários fatores conjugaram para tomar essa decisão, absolutamente madura, consciente e ciente de que será a campanha do “tostão contra o milhão”. Não me assusta nem me amedronta. Comecei minha vida pública em 1977, no primeiro mandato de Antônio Olímpio. De lá para cá, só não participei dos governos de AO (1993/1996); Valderico Reis (2005/Ago-2007) e no atual mandato de Jabes. Exerci nesses governos cargos comissionados que me fizeram entender e conhecer a cidade, estando ao lado de quem tem a obrigação de decidir pelo melhor para a coletividade. Aprendi com todos, sem exceção, porém, foi no governo de Newton que tive oportunidade de estar mais perto das decisões. Tive mais liberdade para opinar e até mesmo decidir. Foi um aprendizado enorme. Nos últimos cinco anos que trabalhei no governo de Ilhéus, pude ocupar a Chefia de Gabinete e Secretaria de Governo, tendo assumido interinamente as secretarias de Indústria e Comércio, Turismo, Assistência Social, Meio Ambiente e Administração. Foi melhor do que um curso universitário, me permitindo compreender e aprender de forma mais ampla a complexidade de governar. Durante o período da revisão dos limites municipais, pude conhecer de perto o vasto território municipal, que historicamente vem diminuindo, em razão do descaso do poder público para com os ilheenses que moram nessas áreas, cuja maioria já perdeu e vem perdendo o sentido de pertencimento. Estavam sendo atendidos por outros municípios e o pior, continuam sendo. Pude ver os graves problemas nas áreas de educação, saúde, assistência social e mobilidade. Continuam sem solução e não enxergam perspectivas de melhoras. As unidades escolares e de saúde são mal localizadas e instaladas sem nenhum planejamento. Na área de assistência social, na prática, nem existem. Por exemplo: o atendimento da região de Pimenteira e Inema é feito pela unidade instalada na Barra do Itaípe. É entristecedor.

Nesse período, tive oportunidade de coordenar o projeto de delimitação legal dos bairros, atualização das denominações dos logradouros públicos e codificação postal. Aprendi a conhecer cada pedacinho da cidade, ouvindo sempre das pessoas os problemas que enfrentam, dos graves aos mais simples, como, por exemplo, o direito de ter um endereço legal, com CEP regulamentado, exigido hoje em qualquer operação que o cidadão vá executar, especialmente via internet. Todos buscam inclusão completa e todos têm esse direito.

Tive o privilégio de participar das discussões sobre o projeto Porto Sul desde a primeira reunião, em 27 de março de 2008, bem como as demais, inclusive as audiências públicas realizadas em Ilhéus, Itabuna, Itacaré, Uruçuca, Itajuípe, Coaraci, Barro Preto e Brumado. Questionei tanto os técnicos do estado da Bahia que o governador Wagner se queixou a Newton dizendo que eu era contra o porto. Nunca fui contra, porém, sou a favor de Ilhéus. Minha preocupação era com o que poderia vir e o poder público não corresponder com o atendimento das demandas. A prova do que digo é a herança que ficou para o município. Ainda não chegaram o porto, o aeroporto, a ferrovia, o mineroduto, as novas estradas nem a ponte, chegou apenas uma ocupação urbana desordenada, imensa, que comprometerá o crescimento sustentável da zona norte do município. Quer conferir, visite a área desapropriada para o aeroporto na região do Joia do Atlântico e a primeira área proposta para o porto, na Ponta da Tulha.

Finalmente, seguindo os passos dos meus antepassados, coloco meu nome para ser submetido à apreciação popular, oferecendo a proposta para exercer um governo que possa tomar decisões com ampla discussão com a sociedade, com absoluta transparência nas decisões, no trato da coisa pública, visando buscar soluções para os graves problemas, desde os pequenos aos grandes e graves, com a consciência de que não serão totalmente resolvidos em quatro anos. É preciso aprendermos a não interromper bons projetos, a começar de novo a cada mandato. As soluções devem ter continuidade, educando o povo a buscar essa cobrança. Ilhéus é maior do que todos nós, sofrendo há quase quinhentos anos e sempre resistindo.

Na teoria, o que não falta é amor por esta cidade. Mas quando chega a prática... Qual é, de fato, a melhor forma de se mostrar um apaixonado por Ilhéus?

Verdade. Todos dizemos que amamos Ilhéus. O problema é que dizemos da boca para fora. Precisamos começar a dizer, não com palavras, e sim com atos e ações concretas. A coligação vencedora do pleito de 2012 denominava-se “Por Amor a Ilhéus”. Temos visto esse amor? É fato que o governo encontrou a máquina pública com graves problemas. Não creio que possa ser imputada culpa apenas ao governo de Newton. Vem de mais longe, inclusive dos dois últimos mandatos de Jabes. Temos empobrecido ano a ano. Isso pode ser comprovado com um simples estudo sobre as receitas, principalmente as receitas próprias do município. É grave o comprometimento da receita com o pessoal. Também é grave os altos valores dos contratos de obras e serviços. Isso tem que mudar e é possível mudar. Existem exemplos bons! A melhor forma de se mostrar verdadeiramente apaixonado por Ilhéus é lutar para conseguir isso. Vou tentar, se Deus permitir. Não tenho nenhum medo de ficar em último lugar, tenho medo de amanhã não poder olhar para meus netos e dizer: “Eu tentei!”

Você é uma figura, digamos assim, desconhecida das classes mais carentes de Ilhéus. Como pretende até a definição do nome fazer o seu ser mais conhecido?

Não creio que seja totalmente desconhecido. Acredito que minha participação nos governos, proporcionaram um pouco de visibilidade, principalmente através do rádio. Posso não ser conhecido pessoalmente, muitos me conhecem pelo nome. É um fato normal, que será encarado com naturalidade e pode ser resolvido através de visita às diversas comunidades, tanto urbanas como rurais, sobretudo através das pessoas que conheço e que me conhecem. Isso é natural em qualquer campanha. Minha proposta é começar esse contato na formação do plano de governo, que terá ampla participação popular. É o que pretendemos.

"Todos dizemos que amamos Ilhéus. O problema é que dizemos da boca para fora. Precisamos começar a dizer, não com palavras, e sim com atos e ações concretas. A coligação vencedora do pleito de 2012 denominava-se “Por Amor a Ilhéus”. Temos visto esse amor?"

Por certo você, para decidir por uma pré-candidatura, já teve acesso às pesquisas que apontam que o eleitor desta cidade busca candidatos com perfil de honestos e comprometidos. Ninguém, absolutamente ninguém, nem os seus prováveis adversários, duvidam da sua honestidade. Até que ponto isso pode ser decisivo na sua estratégia de consolidar uma candidatura?

Todo mundo é honesto até que se prove o contrário. Essa assertiva popular é válida. Não me considero melhor do que ninguém, nem mais conhecedor de Ilhéus e seus problemas do que ninguém. Estou me preparando para os debates, os bons debates, onde poderemos ver as propostas dos candidatos. Tenho estudado Ilhéus todos os dias. Caso seja confirmado como candidato não fugirei a nenhuma pergunta.

Quanto a questão da honestidade não é favor é um dever de todos. Felizmente, nos dias atuais, o controle social, a cobrança popular, as mídias e as redes sociais proporcionam colocar às claras algumas coisas obscuras que acontecem.

Eu ainda não tive acesso a pesquisas. Quem diz que teve, passa essa informação. Quando tiver, poderei afirmar.

Por falar nisso, você não teme que as pessoas mudem de opinião a seu respeito na medida em que passa a te ver posando em fotos com políticos, digamos, “tradicionais” da Bahia que não trazem consigo a imagem da mudança que a cidade procura?

Faço sempre as coisas sem medo de me arrepender, buscando sempre julgar a mim próprio e não aos outros. Todo mundo tem virtudes e defeitos. Como sou otimista, miro nas virtudes e me esquivo dos defeitos. Quem acha que não tem defeito ou pecado, faça o que disse Jesus: “Atire a primeira pedra”. Vou ser sincero para que possa iniciar essa proposta olhando de frente para todos. Quando aceitei colocar meu nome como possível candidato, cobrança de inúmeros amigos e até de pessoas que não conheço, disse que só aceitaria tendo um partido que pudesse garantir a legenda. Não por vaidade e sim, para que não seja frustrada a expectativa de quem acreditar na proposta, fato que aconteceu na última eleição, quando puxaram o tapete de Ruy Carvalho. O partido que me deu essa garantia foi o PTB. Quando conversamos, tratamos de política e não de compromissos que me envergonhasse depois. Sendo vitorioso ou derrotado, honrarei minha palavra. Quem acredita ou venha a acreditar em mim, é porque confia na proposta e não apenas nas pessoas. Nossa intenção é fazer uma campanha de alto nível, discutindo ideias. Ilhéus precisa disso!

Tenho pesquisado histórias de alguns intendentes e prefeitos de Ilhéus. Reza a lenda ou conta a história que o prefeito Herval Soledade nunca respondia a crítica dos adversários. Passava ao largo. Vou tentar imitar Herval. Logo que foi divulgada a pré-candidatura do PTB, muitas foram as manifestações nas redes sociais e na mídia eletrônica. Graças a Deus, a maioria incentivando. Os poucos que criticaram ou buscaram ofender, não vão ter o gosto de ver a resposta. É mais fácil atirar de longe e nunca se comprometer. A mudança que a cidade procura, como você diz na pergunta, tem que começar na campanha.

"Estou me preparando para os debates, os bons debates, onde poderemos ver as propostas dos candidatos. Tenho estudado Ilhéus todos os dias. Caso seja confirmado como candidato não fugirei a nenhuma pergunta."

Na sua opinião, você, caso seja confirmado como candidato, vai disputar com quantos adversários? E quais seriam eles no seu raciocínio?

Não dá para afirmar. Seria um exercício de futurologia e não tenho o dom de adivinhar o futuro. Para não ficar sem dar um palpite, acredito que na reta final cheguem de quatro a cinco candidatos. Três, como no pleito anterior, não se repetirá. O governo do estado poderá ver reeditada a situação de ter duas candidaturas da base aliada. Pode ser até três. Os demais virão dos partidos que farão a oposição ao governo local. Quantos e quem? Não posso afirmar.

O que neste momento falta a Ilhéus, Zé Nazal? Que avaliação você faz da administração do atual prefeito? Que nota daria a ele?

Governança. Tem governo mas não tem governança. Quando falo de governança quero dizer de apoio popular. As decisões de governo são tomadas nos gabinetes. É imperativo, nos tempos de hoje, a discussão dos problemas com a comunidade. O que vou dizer agora, torno público porque já disse a Jabes pessoalmente. Não dá para governar decidindo apenas dois ou três. Passou esse tempo. Quer saber, os conselhos municipais, que hoje são a base do controle social não estão sendo respeitados. Os exemplos do que digo ficam evidentes em vários fatos. Apenas para ilustrar cito um: a lei municipal 2312/89, que cria o Centro Histórico e inventaria os imóveis mais antigos é rigorosa quando a alteração nos mesmos. Recentemente a conhecida “Casa dos Artistas” prédio de 1890 foi completamente reformada, com aprovação da prefeitura e anuência do Conselho de Cultura. Desafio me provarem que está sendo obedecida a lei.

Quanto a nota que você me pede, peço desculpas, por não me manifestar. Seria deselegante. O povo é que dará a nota.

"Faço sempre as coisas sem medo de me arrepender, buscando sempre julgar a mim próprio e não aos outros. Todo mundo tem virtudes e defeitos. Como sou otimista, miro nas virtudes e me esquivo dos defeitos."

Caso eleito, quais serão os pilares da sua gestão?

Transparência, diálogo com os servidores, com a sociedade, com os entes públicos. Buscar esse espaço de governança para fazer com que possamos crescer de forma sustentável, buscando caminhos para solucionar os grandes problemas que temos. Em todas as áreas. Proceder revisões na legislação ajustando o município aos tempos atuais. Ter preocupação com as pequenas coisas e com as grandes, que possibilitem alcançar a recuperação da autoestima, do amor pela cidade e sua história. Desde a poluição visual e sonora a perceber as necessidades futuras. Não dá para discutir e planejar a cidade em poucos dias. É necessário um trabalho permanente. Vou dar um exemplo: na zona sul, à margem da BA-001, estão sendo implantados há anos diversos empreendimentos imobiliários, principalmente entre Ilhéus e Olivença. Ocorre que esses empreendimentos estão sendo implantados como “ilhas” não houve uma preocupação de se prever a obrigatoriedade de se exigir uma via paralela à rodovia. Vejam o exemplo da “Paralela” em Salvador. Daqui a alguns anos, quando se consolidar ainda mais essa ocupação, que via teremos como alternativa nos momentos de engarrafamento?

Temos que pensar como ficará o tráfego entre Ilhéus e Itabuna. Como implantar um meio de transporte rápido? Se não for pensado agora, que já está difícil, pior no futuro. A conurbação urbana é hoje uma realidade.

Como pensar o abastecimento de água o futuro, sobretudo na região da represa do Iguape. O estado planeja uma rodovia que corta a bacia dos rios São José e Iguape, principais mantenedores da represa. Ainda tem a ZPE que está também localizada na área. Como não comprometer nossa principal fonte de abastecimento?

Temos um grave problema no quesito habitação popular. Como pode uma cidade que completará 500 anos em breve não ter uma política de habitação, não ter um Plano de Habitação?

E por ai vai, seria difícil responder de uma vez tudo que pensamos e temos discutido em grupo. Na montagem do plano de governo detalharemos mais.

Finalizando, o que nos preocuparemos mais é com a seriedade e o trato com o erário público, de forma transparente e clara para depois não sair da prefeitura ou de casa escondendo a cabeça com a camisa. Passando vergonha. Em janeiro, se Deus permitir, completo 60 anos de idade. Minha ambição é ver essa cidade respeitada e amada. Não quero mais ficar rico, ter bens ou exercer o poder pelo poder. Quero respeitar e ser respeitado. É suficiente para me fazer feliz.

"Hoje Ilhéus tem governo mas não tem governança. Quando falo de governança quero dizer de apoio popular. As decisões de governo são tomadas nos gabinetes. É imperativo, nos tempos de hoje, a discussão dos problemas com a comunidade."

Você é efetivamente o primeiro nome a se posicionar publicamente por uma candidatura. Isso de antecipar este anúncio ajuda ou atrapalha? Você não passa a ser o nome a ser batido?

Primeiro não, creio que terceiro. Carmelita (PT) e Cosme (PDT), salvo melhor informação já tiveram seus nomes anunciados pelos partidos. Pode ser que outros candidatos também, não tenho certeza. Não poderei afirmar se será bom ou ruim. O tempo dirá. Ninguém é candidato de si mesmo. Se tiver que ser batido, serei. Minha proposta é oferecer uma alternativa com proposta séria. Ninguém me peça dinheiro para festa, farra, promoções, etc, porque não terá. Quem quiser conversar, dialogar ou discutir problemas e suas soluções, conte conosco. Se for para ganhar comprometendo a alma, prefiro perder. Sem demagogia. Adoro deitar a cabeça no travesseiro e dormir em paz. Já vi muita coisa em política, boas e más. Já me sinto grandinho o suficiente para saber o que quero. Quero o que todo mundo quer: felicidade. Para todos, não para poucos ou só para mim e os meus. O povo de Ilhéus merece ser feliz de verdade.