Nós, brasileiros, e os Jogos Pan Americanos

Atleta brasileira no Pan
Divulgação

O Brasil termina os Jogos Pan Americanos de Toronto 2015 com um honroso terceiro lugar, atrás apenas dos dois únicos países desenvolvidos das Américas – Estados Unidos e Canadá – porém à frente dos demais países que participaram do Pan, incluindo Cuba, que sempre foi um adversário mais do que respeitável; e bem à frente dos outros países americanos: Colômbia, México, Argentina, Venezuela etc.

Este resultado, que reflete uma melhoria ainda um tanto modesta, porém crescente do desempenho brasileiro nos esportes, nos permite observar outros dados relevantes sobre o que ocorre hoje na sociedade brasileira.

O primeiro deles é o crescimento da participação das mulheres. Das 141 medalhas conquistadas pelo Brasil no Pan, 63 vieram delas, inclusive com pódios em modalidades nas quais nunca havíamos conquistado medalhas, tais como luta olímpica e pentatlo moderno. Nada menos do que 46,3% de nossas medalhas foram femininas, e este fato reflete, sem dúvida, a importância crescente das mulheres em todos os setores da vida brasileira, da política à cultura, da sociedade ao mundo do trabalho.

Também podemos constatar, mais uma vez, o excelente potencial que nós brasileiros temos para o esporte. Não é por acaso que nos destacamos em quase todos os esportes a que nos dedicamos com um pouco mais seriedade, incluindo o controvertido MMA (que não é modalidade olímpica). Somos convidados a pensar que potência mundial poderíamos ser nos esportes, se houvesse políticas sérias por parte de nossos governos e, também, dos dirigentes – ou cartolas - dos esportes, que parecem só pensar em dinheiro, dinheiro, dinheiro, e da forma mais mesquinha possível.

Por último, mas sem esgotar a lista de boas surpresas, destaco a alegria infinita, o orgulho mesmo que nós brasileiros podemos e devemos ter de atletas anônimos tais como os canoístas do interior da Bahia, de Ubaitaba e de Ubatã que trouxeram medalhas, inclusive de ouro, contrariando a tudo e a todos.

Nossa participação, em qualidade e quantidade, não deixa de refletir um país que, apesar de todas as dificuldades, cresce, compra, estuda, treina, consome, trabalha, se conecta e vive, com grande parte dos brasileiros - mas não todos - buscando uma vida e um futuro melhor, mediante esforço próprio e dignificante.

Por fim, cumpre destacar a pouca cobertura e o enfoque, senão negativo, de diminuição de nossas conquistas, que parte da grande mídia adotou em relação à competição e a nossos bons resultados no Jogos Pan Americanos.

Parece-me que parte dessa grande mídia ou não conseguiu se libertar daquilo que chamam de complexo de vira lata, que se constitui na atitude de muitos brasileiros de sempre depreciar tudo aquilo que vem do Brasil; ou não quer que nada vá bem em nosso país, para consolidar o ambiente de crise, de insatisfação, a ser transformado em revolta surda e irracional contra aqueles que hoje estão no governo, como se a oposição hoje existente fosse algo melhor do que aqueles que hoje ocupam o Palácio do Planalto.

Todos nós brasileiros podemos, sim, ter alegria pelo desempenho de nossos atletas, que mesmo com todas as dificuldades e problemas conseguem sair de um interior quase desconhecido - de uma Ubaitaba - para nos encher não só de orgulho, mas de esperança por tudo aquilo de bom que o trabalho, o esforço e a dedicação podem nos proporcionar. É isso que faz a vida ser melhor!

O autor Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz. e-mail: juliogomesartigos@gmail.com