Você tem sede de que?

Crianças em um bar para aprender o que?
Reprodução/TV Santa Cruz

Enquanto a juíza da Vara da Infância e do Adolescente proíbe menores de 18 anos, acompanhadas ou não dos pais ou responsáveis, de circularem em festas onde são comercializadas bebidas alcoólicas, a Prefeitura de Ilhéus faz o caminho oposto ao estimular e aceitar o funcionamento de uma escola, da educação básica, num... bar. Isso mesmo. Parece piada. Mas não é. A Secretaria de Educação da Prefeitura de Ilhéus transferiu os alunos da Escola Nucleada Aritaguá, localizada em Ponta do Ramo, para um espaço dividido com um bar do mesmo distrito. A decisão foi tomada no início do segundo semestre letivo, porque o imóvel do colégio não tem condições de uso. São crianças tendo aulas no bar.

Prefeito de Ilhéus pelas quarta vez, nos anos 80 Jabes Ribeiro iniciou sua vida pública como secretário de Educação da cidade. Empolgou como uma nova e destacada liderança, ao comandar um cursinho pré-vestibular no centro da cidade e a ministrar aulas de Física em escolas como o Instituto Nossa Senhora da Piedade, uma das mais respeitadas instituições de ensino da Bahia. Seu discurso sempre foi por uma educação de qualidade, inclusiva, sem distinção entre ricos e pobres.

Pergunta-se agora: onde está o professor Jabes? Aquele jovem cheio de ideais que acreditava na educação de qualidade como forma de transformação de vida dos jovens de Ilhéus? Por que tamanha distância entre o professor dos anos 80 e o político dos dias atuais? Onde está a cabeça daquele educador cheio de sonhos? Como aceitar que subordinados seu tomem iniciativas como esta que impedem qualquer possibilidade de aprendizado por mais boa vontade que alunos e professores possam ter? Que tipo de cidadão o Jabes de hoje sonha para a cidade que o elegeu como líder de tantas gerações?

É lamentável o que está acontecendo. Uma sala de aula no espaço de um bar é o fundo do poço de uma educação desprestigiada, abandonada e sem compromisso.

Mas vá lá que o pequeno aluno de Aritaguá tenha mesmo é sede de aprender.

Daí só lhe restam dois caminhos: deixar a "escola" e tentar aprender noutro lugar ou fechar o livro, chamar o garçon e lhe pedir uma gelada diante da irresponsabilidade de quem, por lei, deveria protegê-lo?