Fragmentos de Esperança

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

Porque é tempo de parar, descansar e pensar, eu, Faxineira de Ilusões e de Sonhos descanso o corpo cansado de tantas caminhadas...

Preciso pensar em tudo que tenho, no que posso fazer faxinando sentimentos bons para não perecerem, não adormecerem.

Já percorri tantas ruas, espiei corredores, pisei em praças (agora inexistentes. Por quê, meu Deus?) sempre em busca de tesouros invisíveis para quem não possui sonhos, limpá-los, fazê-los reluzir, eternizá-los.

Viajei tanto, sobrevoei tantos céus, firmei a vontade e o coração num céu especial que tanto me deu. Sempre na esperança de ver horizontes diferentes do que me são dados agora.

Meu coração sangra, macerado por tantas realidades cruas, por tantos sinais de dor e apreensão.

Mais lutas?!

Preciso parar,  esperar respostas, alçar vôos etéreos, agarrar partículas de energia cristalizadas que me alimentam e preparam o meu pensamento para transmutações.

Mentalizo a divindade que me faz crença, aquieto o meu ser que precisa de uma luz, de filamentos de esperança, recados dos céus.

Daqui do cantinho que me faz criar e crer  posso mentalizar meus porquês e exigir a quem me guia as respostas que nunca me deram .

Aqui posso descansar, abrir os braços e sentir o vento que pode dar boas ou más notícias e brincar de querer.

A noite que amplia os ecos do meu coração, por ser silenciosa, permite que eu imagine, respire o ar perdido de minha infância, reencontre os meus sonhos que caíram no precipício para morrer e, como uma Fênix, ressuscitá-los porque sou Faxineira dos Sonhos.

Daqui do meu cantinho que me alimenta animicamente eu posso conversar com tantos seres que estão aqui através de suas idéias  eternizadas. Meus eternos mestres.

Livros, livros, livros! Companheiros fiéis que me dão suporte para viver, sonhar, querer.

Daqui posso descansar, fechar os olhos, ver os “olhares” que armazenei nos sentidos para não perecer.

Fechar para não ver, para não tocar nem ser tocada , fechar para não chorar, fechar para não acordar. Não faxino sonhos?

Alimento a minha vida de quimeras. Neste mundo que criei posso tudo, inexisto na realidade que não me convém porque eu consigo voar e invadir as vontades do meu coração.

Preciso de um sinal, de uma metáfora, de um sopro de luz para minha mente cansada...

Preciso urgentemente de um sinal...

Porque é tempo de descansar, mentalizo as divindades que se multiplicam em minh’alma pois eu preciso de um sinal  para prosseguir e  não perder a esperança.

Lutar cansa?

Lutar não tem fim?

O túnel de Akira Kurosawa abre as passadas humanas para a luz. Enxergarei essa luz?!

Preciso do sinal,de filigramas que sejam para abraçar a paz, recuperar as forças e reiniciar tudo…

A noite já flerta com a madrugada. Daqui do meu cantinho vejo o céu com pontos de luz, estrelas que me falam de  renascimentos.

Preciso  que me digam o que quero saber ou, quem sabe, escutar.

Como se para acalmar a minha impaciência vejo chegar no teto um filhote de esperança.  Aquele inseto frágil que já pousou no meu computador, só que este está inciando a vida, dizendo ao meu ser cansado de lutas que sempre  existe a renovação…

É tão pequenino, tão minúsculo inseto contudo se agiganta diante de minha visão.

Não se mexe, nada faz. Mas me dá um recado perene.Posso esperar!

A força que se esvaía dentro de mim renascerá, brotará como anúncios de amor pela vida.

Renasço  na esperança olhando aquele pequenino ser que me deu o recado.

A noite já começa a clarear… A mudança do céu não me assusta  porque  não temo o sono rebelde que pirraça o meu corpo cansado. Relevo e  reenergizo o meu ser porque  daqui a pouco será amanhecer.Mas estou plena das divindades que mentalizei e responderam de forma inesquecível que esperar é tarefa humana.

Como se não bastasse a esperança, uma nova resposta para minhamomentânea incredulidade aguça a minha curiosidade. Ouço na janela um outro especial recado. Mais um filhote que, agora, simboliza a imortalidade da alma, uma espécie encantada da espiritualidade: um pássaro!

Mas também um filhote. Um sabiá que chegou para aconchegar a sua existência  no abrigo que lhe forneci.

Iniciando a sua vida me diz que eu restaure a minha fé no círculo que a Energia Superior doou para o ser humano.

Lutar e renascer para novas lutas.

Choro e reverencio as divindades que entenderam a minha angústia e o meu desespero de momentaneamente nada esperar.

Este pássaro que inicia o seu aprendizado de vôo materializou para a minha angústia a ponte entre o céu (onde é seu habitat) e a terra (que me abriga) sendo o intermediário para as minhas perguntas .

Porque  parei e pedi implorando um sinal, o meu corpo agora precisa descansar em total plenitude porque a pequenina esperança e o querido sabiá já responderam para mim tudo que eu necessitava ouvir.

Ana Virgínia Santiago é jornalista, poeta e cronista no sul da Bahia