Organização da avenida não saiu por pressão política

A favela que o cartão-postal da cidade não merece ser
JBO

Exclusivo. O projeto de organização de uma praça de Alimentação na avenida Soares Lopes, centro de Ilhéus, evitando a favelização da área no período da alta estação, chegou a ser "desenhado" por técnicos da Prefeitura.

Só não saiu do papel.

Informações obtidas com exclusividade pelo Jornal Bahia Online dão conta de que mais que uma negativa do governo em executá-lo, houve pressão de ambulantes e vereadores para que, de fato, a organização não acontecesse.

"A organização não interessa a muitos que estão informalmente na avenida, espalhados e sem controle das autoridades. Por isso, o meio que eles encontram para pressionar é ir aos vereadores da base e reivindicar que o projeto não aconteça. Aí entra a política", informa um técnico da Prefeitura.

No projeto, denominado "Verão na Avenida", haveria um amplo espaço para comercialização de alimentos, com toldos padronizados para receber ambulantes previamente cadastrados. No período, todos teriam uma licença provisória de funcionamento e acompanhamento dos setores de fiscalização (com cobrança tributos sobre utilização do solo), vigilância sanitária e de técnicos do meio ambiente. "Nada disso aconteceu", explica o técnico.

Neste final de semana, o Jornal Bahia Online publicou ampla reportagem a respeito da favelização da avenida Soares Lopes e das praias (da avenida e do Cristo) invadidas, sem controle, por ambulantes informais (leia aqui).

A matéria dividiu opiniões. Muitos leitores elogiaram a cobertura. Outros, em quantidade bem menor, criticaram. "Você não acham que em Ilhéus já não tem muito bandido não?", condenou a reportagem a artista plástica Tina Vales, pelas redes sociais. A intenção da matéria não foi produzir "novos bandidos" nem crucificar a necessidade de a população ganhar dinheiro durante o verão. Muito pelo contrário.

A proposta foi chamar a atenção das autoridades para um problema que persiste ao longo dos anos: a desorganização e o perigo que isso pode ocasionar. Há um ano inteiro para se planejar e organizar espaços e oportunidades para os vendedores informais. Por que não se faz isso? Talvez a resposta esteja lá em cima, nas primeiras linhas deste texto.

O que o Jornal Bahia Online propõe é uma ação que possa ser bom para os vendedores, para o governo e para toda a sociedade (isso é importante também).

Tina Vales, por exemplo, tem uma história a ser seguida. Ela integra o Movimento Pontal Criativo, vende seus produtos nas barracas padronizadas da Feirinha do Pontal Criativo e luta, ao lado de outras lideranças, para que a praça São João, localizada no bairro, seja, neste momento, recuperada e apta para sediar um movimento de valorização da arte e da cultura popular do bairro.