A incredulidade da Faxineira de Ilusões

Ana Virgínia Santiago
Divulgação

Caminhei muito lutando numa guerra inesperada na contra mão de tudo que pude imaginar.

Passei dias, dias e dias vivenciando a luta dos incrédulos que sonham com a compreensão.

Dei as mãos aos porquës, reneguei as ações desumanas, almaldiçoei e cuspi o desprezo nos vis que respiram o mesmo espaço nosso e são desiguais nas atitudes.

Andei tanto sem sair de lugar algum…

Chorei tanto!

Busquei respostas...

Olhei para os céus e indaguei, não por falta de fé, mas buscando mais energia para ficar mais forte!

Venci!

Retorno à minha aldeia, reduto de paz empunhando o estandarte da vitória das pessoas de bem que dormem tranquilas por não fazer mal aos outros nem ter olhares de inveja e mal querer com atitudes subreptícias.

Venci!

Volto ao meu recanto pacificador (re)conhecendo os espaços adormecidos, pisando no chão que nem sempre me dava segurança e reencontrando a paz que, por um tempo e maldade, me fizeram perder.

Mas não sou a Faxineira de Ilusões que sonha e sobrevoa os céus com seu cavalo alado para fortalecer o espírito? Como pude perecer?

Venci!

Descansei minhas ferramentas de trabalho.

Por um tempo abandonei tudo que sempre gostei de fazer para vencer uma luta desigual.

Hibernei pela esperança de ver recuperado alguém vitimizado pelo desamor.

Juntei todos os cacos desta experiência para renascer, respirar, rever e reconhecer  o que tinha abandonado…

Venci.

Vestia  armadura de defesa recebida pelo Principe das matas, banhei minhas mãos e minha cabeça nas águas douradas da Moça Bonita e guardei no coração, para proteção, as armas da justiça do Guerreiro que vence todas as demandas.

Fiquei forte e, agora, fortalecida, retorno à aldeia.

Dias e dias  de torpor aguçaram a minha sensibilidade para aprendizados, reconhecimentos e certezas. E também de questionamentos.

Como o ser humano pode explicitar de maneira tão nítida a maldade que dizim a sua essência?

Como se pode optar pela desconstrução se existe uma imensidão de formas de se ser melhor?

Retornei…

Lembro-me de cada rosto amigo, agradeço cada mão solidária que criou correntes de bem querer dando-me respaldo para vencer uma guerra desigual e continuar acreditando. E sorrir pela solidadriedade das gentes de bem de minha aldeia.

Agora estou em minha aldeia.

É chegada a hora dos recomeços e arrumações.

Varrer o coracão de um Menino que recebeu respingos das ações de mal querer para abrir as estradas que seus passos precisam percorrer.

Aplaudir uma Menina que tem a  lua como cúmplice e  o brilho das estrelas, por todas as batalhas vencidas.

Ser parte de uma vontade de cura por uma Menina linda, raiz de gente do bem da aldeia e que precisa continuar a viver movimentando o sentimento de amor solidário.

Recomeços… Aspirar, lavar, polir, embelezar. A vida. Os pensamentos.

Porém é necessário aspirar a poeira e dedetizar certas mentes torpes e desumanas das gentes que se esquecem de olhar para dentro de seus corações e vivem em seus lixões interiores. Ah! Como preciso exorcizar essas gentes para não mais maldizer, não mais invejar neutralizando suas atitudes.

Agora, retorneiaomeu habitat.

Ainda acompanhando os novos passos e a volta à vida de alguem vitmizado pelo desamor, vislumbro caminhos abertos e janelas que se abrem  com a esperança para quem dela está precisando.

Ah! tantas gentes de minha aldeia precisam de mãos abertas e braços dando abraços!

Tantas gentes que precisam de mobilização para enfeitar a minha aldeia!

Quanto desamor! Quanto descaso! Preciso ver as praças, órfãs de árvores, de brilhos.

Minha aldeia precisa de “corações conscientes das belezas da vida” para voltar a ser bonita.

Sou Faxineira de Ilusões. Preciso voltar ao meu labor.

Vou guardar num canto das paredes que me abrigam o livro de um homem que viveu de mãos dadas com a amargura e me fez refletir sobre a vida durante os dias, tantos dias que pensei sucumbir. O Augusto senhor que carregou o nome dos Anjos na vida foi meu companheiro e meu professor nos dias e dias que lutei numa guerra desigual     e, com versos, abriu minha consciência sobre a  maldade humana.

Retorno à minha aldeia…

A autora Ana Virgínia Santiago é jornalista, escritora e poeta no sul da Bahia.