Direitos, por Júlio Cézar Gomes

Júlio Cézar Gomes
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O problema é que todos querem ter direito, mas ninguém quer ter limites, nem respeitar os direitos dos outros.

Talvez por isso, em nossa sociedade moderna e industrializada, dominada pelo frenesi da comunicação instantânea proporcionada pela internet, nunca tenhamos tido tantos direitos, e nunca tenhamos experimentado tantos problemas em ser respeitados.

Os mais diversos grupos reivindicam direitos sociais para os indivíduos que o compõem. Assim ocorre com os trabalhadores, com os homossexuais, com as mulheres, enfim, com aqueles que antes formavam as chamadas minorias sociais.

Isto não é ruim. É bom que as pessoas reivindiquem e garantam seus direitos na forma da lei. É sinal de avanço social.

O que preocupa é que nas relações sociais presentes no dia-a-dia as pessoas se respeitem cada vez menos. Filhos simplesmente não respeitam aos pais que os criam, educam e mantém. Alunos adotam atitudes desrespeitosas em relação aos professores e, mais tarde, quando se tornam empregados em uma empresa, percebem que o preço desta mesma conduta será a demissão imediata, e só então pensarão duas vezes antes de repeti-la.

Quanto aos idosos, o desrespeito é generalizado. Afinal, eles não têm mais o vigor físico necessário para se imporem, as vezes nem para cuidar de si próprios. Por que, então, respeitá-los?

No que toca ao Estado e a seus representantes, a falta de limites ou respeito também se generaliza. Certo que os gestores podem ser corruptos, mas é o Estado quem nos dá a pouca saúde, educação e segurança pública de que ainda dispomos. Sem ele, tudo seria incrivelmente pior.

Misturamos nossa falta de respeito ao próximo com nossa falta de limites e de educação e saímos pelas ruas impondo aos outros que ouçam nossa música, seja boa ou péssima; e deixando toda a espécie de lixo por onde passamos, como se houvesse um empregado invisível atrás de nós, para recolher tudo. Não é assim que muitos de nós sempre fizemos em casa, desde crianças?

O problema é que se desvinculou a noção de direitos da noção de deveres, de responsabilidade, de limites. Assim, queremos ter as prerrogativas de adultos, mas não queremos assumir as responsabilidades de sê-lo, nem mesmo as mais elementares tais como prover ao próprio sustento ou prestar contas à sociedade daquilo que fazemos.

Como em uma espécie de miopia endêmica, só enxergamos nossos direitos, o que nos beneficia, o que nos trás comodidade. Assim, não respeitamos uma vaga destinada ao deficiente, burlamos as normas públicas sempre que podemos e passamos como um trator sobre os direitos das outras pessoas.

Tanto quanto a noção de direito individual ou coletivo, o conceito de respeito ao próximo é imprescindível para uma boa convivência social. Aliás, precisamos menos de uma lei que diga que temos de respeitar aos nossos avós do que de fazê-lo, efetivamente.

Só direitos, sem limite, sem contrapartida de deveres, simplesmente não funciona, não pode funcionar bem, socialmente falando, porque hoje somos o jovem que desrespeita, mas amanhã seremos o idoso sem direito ou valor social algum.

Vivemos em sociedade, o que implica em reciprocidade, gostemos ou não. O problema não está no direito que temos, mas naquele que teimamos em não reconhecer em relação ao outro.

O autor Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito, ambos pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.